Hector Berlioz

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"Paris, rua de Rivoli, Hotel du Congrés

Se você não almeja minha morte, em nome da piedade (não ouso dizer do amor), faça-me saber quando poderei vê-la. Imploro-lhe graça, perdão... de joelhos, com lágrimas!!! Oh!, infeliz como sou, não acreditei merecer tudo quanto sofro, mas bendigo os golpes provindos de sua mão. Espero sua resposta como a sentença de um juiz.

H. Berlioz"

O desequilibrado e desesperado autor dessa carta é o compositor Heitor Berlioz. A destinatária era a atriz irlandesa Harriet Smithson, por quem ele estava perdidamente apaixonado. A atriz, que a princípio pouca atenção dispensa a seu esquisito pretendente, era muito famosa. Consagrada nos palcos de Londres e Paris - poderíamos compará-la, em termos de fama, com as atrizes da Rede Globo de Televisão. De repente, num golpe de sorte, perde toda sua fortuna. Como se isso não bastasse, sofre um acidente e fratura uma das pernas. Berlioz não perde a chance de ajudá-la: lança uma campanha de apoio à amada, da qual participam Liszt e Chopin, entre outros artistas.

O esforço vale a pena: a 3 de outubro de 1833 Berlioz e Harriet casam-se em Paris. Ninguém precisa estudar psicologia para imaginar que é impossível conviver com um biruta como Berlioz. Em pouco tempo o casamento desmorona. Mais uma cena teatral, desta vez com a atriz implorando que ele não a abandone. Surdo aos apelos de sua ex-paixão, Berlioz continua sua vida de altos e baixos.

Situações dramáticas parecem ser uma constante em sua vida. Nascido em 11 de dezembro de 1813, em uma cidade próxima a Lyon, na França, Berlioz, após preparar-se para o bacharelado em letras, é mandado à Paris para estudar medicina. Sem a mínima vocação para a coisa, decide de uma vez por todas largar os estudos de medicina e dedicar-se integralmente à música. Isso causa o rompimento com o pai - rompimento para lá de questionável, uma vez que continuaram amigos e o pai continuou sustentando Berlioz em Paris.

Após alguns estudos no Conservatório de Paris, uma de suas primeiras composições, uma Missa, obtém muito sucesso na estréia, em 1825. O pai o autoriza formalmente a seguir a carreira musical, desde que o filho concorra ao "Prêmio de Roma", uma espécie de bolsa de estudos da CAPES ou do CNPq, que permitia ao aluno estudar em Roma. Quinze meses depois, ao voltar de Roma, já é um célebre compositor em Paris.

Nesse meio tempo, inspirado por seu amor impossível por Harriet, escreveu a obra que mantém seu nome célebre nas paradas de sucesso até hoje: a Sinfonia Fantástica. Essa curiosa obra faz muito sucesso, mas não o suficiente para que a atriz o aceite.

Sua vida prosseguiu cheia de incidentes, tanto pessoais quanto profissionais. Após separar-se de Harriet, teve um duradouro e atormentado romance com uma cantora espanhola, Maria Recio. Mesmo esse caso principal foi entremeado de diversos casos secundários.

Profissionalmente, obteve muitos triunfos no exterior, especialmente na Alemanhã, enquanto a França apenas o decepcionava. Poucas de suas obras eram reconhecidas em Paris. E elas se sucediam em profusão: após a Sinfonia Fantástica, escreveu ainda várias óperas (A Danação de Fausto, Os Troianos, Benvenutto Cellini, Beatriz e Benedito), outras sinfonias (Sinfonia Fúnebre e Triunfal, Sinfonia Romeu e Julieta, Lélio) e cantatas (A morte de Cleópatra, A Infância de Cristo). Ao contrário da maioria de seus contemporâneos, nunca escreveu concertos ou obras para determinado instrumento. Seu instrumento era a orquestra, com a qual atingiu um virtuosismo que seria ultrapassado apenas por Rimski-Korsakow, 50 anos depois.

Morreu em 8 de março de 1869. Seu enterro, no cemitério de Montmartre, foi no melhor estilo berlioziano: pompa, multidões em prantos - assim como ele previra em seu Réquiem, sua missa fúnebre de proporções descomunais.

Obras

Sem rodeios: Berlioz  é mundialmente conhecido por sua maior obra, a Sinfonia Fantástica. Essa estranha obra é o primeiro Poema Sinfônico do qual se tem notícia. Dividida em cinco movimentos, ela representa um "episódio da vida de um artista" - não por acaso, subtítulo da obra. Para entender a obra, devemos nos lembrar que, ao escrevê-la, Berlioz estava apaixonado por Harriet - ele é "artista" do subtítulo. Cada movimento traz uma explicação:

1 - Devaneios e Paixões: no primeiro movimento o artista descobre-se apaixonado. Pensa na amada, vê a amada em todos os cantos, não pode viver sem ela, transforma-a em uma idéia fixa. Essa idéia fixa é expressa em música na forma de um tema, tocado pelas clarinetas, que representa sua amada.

Obs: Esse procedimento é de fundamental importância na história da música: associar um personagem a um determinado tema musical e usar esse tema cada vez que a personagem aparece será a base dos Poemas Sinfônicos de Liszt e dos Leitmotifs de Wagner. Simplificando um pouco a história, é como a música-tema de uma determinada personagem nas novelas.

2 - Um baile: durante um baile da alta roda parisiense, o compositor vê - ou pensa que vê - sua amada entre os casais que rodopiam. Esse movimento, em ritmo de valsa, faz um uso bastante interessante da harpa.

3 - Cena nos campos: para esquecer a mulher amada, o artista vai para o campo. Todavia, não consegue recuperar sua serenidade. A imagem de sua paixão, na forma da "idéia fixa" volta a atormentá-lo.

4 - Marcha rumo ao cadafalso: o artista fuma ópio (tava achando que essa história de artista drogado é coisa nova?) e sonha que matou a amada, sendo condenado à morte. Esse movimento termina com sua decapitação.

5 - Sabá das Feiticeiras: a mulher que ele amava transformou-se, depois de morta, em uma bruxa. Tem início um sabá infernal, no qual Berlioz coloca à prova todos os recursos da orquestra moderna. Rápida e estrondosa conclusão.

 

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