Wolfgang Amadeus Mozart

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O concerto prosseguia. Toda a realeza estava atenta, esperando que o músico terminasse de executar suas mais novas criações. Suas mãos corriam ágeis pelo teclado, demonstrando uma técnica fora dos padrões.  No final, todos aplaudem calorosamente o músico: é um garoto, com menos de dez anos. Ao agradecer, porém, tropeça e cai, sendo amparado por uma das princesas presentes - a futura rainha Maria Antonieta. O pequeno músico, sem ligar a mínima para o protocolo, beija a princesa e diz:

-Você é a melhor de todas estas. Quando  crescer quero me casar com você!

Por mais genial que fosse, Mozart era uma criança. Infelizmente nem sempre sua vida foi o conto de fadas que parece. Ao contrário, vários dissabores marcaram a vida de Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart - que mais tarde abreviaria seu nome para Wolfgang Amadeus Mozart.

Certa vez, ao voltar de seu trabalho como violinista da corte do Arcebispo de Salzburg, Leopold Mozart encontrou seu filho Wolfgang muito concentrado sobre uma folha de papel pentagramado. A curiosidade logo cedeu seu lugar ao espanto, quando o pai viu do que se tratava: aos cinco anos de idade, mal sabendo ainda manejar uma pena, escreveu sua primeira obra, o Minueto e Trio em Sol Maior, para cravo.  O entusiasmo do pai não teve limites. O filho seguia sua carreira espontaneamente, e com um brilhantismo fora do comum. Era - e infelizmente temos que recorrer ao lugar-comum - uma criança-prodígio, na mais correta acepção da palavra. Um gênio de cinco anos de idade.

Para felicidade de Leopold Mozart, Wolfgang não era o único filho músico: sua irmã, Marianne, também demonstrava um gosto excepcional para música, e não tardou para que os dois estudassem música com regularidade, aperfeiçoando, assim, seus dons inatos.

Naquele tempo, havia uma condição essencial para a fama e o reconhecimento público. Assim como hoje é a televisão que define a fama e o prestígio de qualquer artista, no século XVIII estes atributos advinham da aprovação ou não dos governantes locais - príncipes, duques, condes e mesmo membros do clero, como bispos e arcebispos. No caso de Mozart, era preciso ser apresentado ao arcebispo de Salzburgo, o que aconteceu, com grande êxito.

Os sucessos iniciais encorajaram Leopold Mozart a maiores ambições. Era preciso que seu filho fosse conhecido, ficasse famoso e obtivesse, na infância, sucesso o bastante para ser conhecido  - e empregado - quando adulto. Teve início, assim, uma série de viagens por toda a Europa.

Correndo a Europa

Áustria, França, Inglaterra, Itália, Holanda. Por onde quer que passasse, a família Mozart, com seu menino-prodígio (santo lugar-comum, Batman!) impressionavam profundamente todos aqueles que os viam. Todas as cortes européias - reis, princesas, duques, marqueses - que o viam ficavam impressionadas por seu talento e sua juventude. Era impossível não ficar maravilhado com o garoto de dez anos que tocava cravo com perfeição, era um virtuose no violino e, como se não bastasse, já era autor de diversas obras, entre concertos, sinfonias e inúmeras peças para cravo. Não apenas o público real, em geral leigo em matéria de música, mas também outros gênios, como um jovem poeta de catorze anos, Johann Von Goethe.

As viagens do pequeno Mozart eram interrompidas, às vezes, por doenças mais ou menos sérias, que, embora atrasassem o percurso, nunca chegaram a comprometer seriamente a saúde do menino. Havia, porém, um problema irremediável, para o qual não existe cura: o tempo. Os anos se passaram, e o menino Mozart tornou-se o homem Mozart. Era ainda um compositor de certo sucesso, mas, desaparecido o impacto de sua pouca idade, desapareceu em grande parte o interesse das cortes européias por ele. Era apenas mais um músico, como centenas de outros músicos que haviam na Europa. Além disso, suas prolongadas viagens começaram a atrair para si o ódio de seus conterrâneos, que achavam que o jovem músico deveria ficar mais tempo em sua terra.

Durante os anos de viagem, a relação de Mozart com seus pais foi a melhor possível. Todavia, já homem feito, surgiram alguns atritos com seu pai. Wolfgang considerava-se já apto a tomar suas próprias decisões. A influência paterna, todavia, era grande: foi por sua causa que Wolfgang abandonou  a jovem Aloysia Weber, uma cantora pela qual havia se apaixonado.

A morte da mãe, em 1778, deu-lhe certa liberdade. Ele estava em Paris, e nessa cidade viveu algum tempo como professor e recitais. Em 1782 casou-se com Constanze Weber, irmã de Aloysia. O casamento, caso raro em se tratando de músicos, foi absolutamente perfeito. Até o fim da vida Mozart permaneceu apaixonado pela esposa, como atestam as inúmeras cartas que lha enviava durante as constantes viagens.

A encomenda feita pela morte

Os compromisso com a família - não tardaram a chegar filhos - levaram o compositor a procurar uma existência mais calma. Estabeleceu-se em Viena, como professor ocasional e compositor. Era apenas mais um mestre da música, entre dezenas de outros, como o italiano Antonio Salieri - acusado injustamente de ter envenenado Mozart. Dessa época datam as grandes obras operísticas, como As Bodas de Fígaro e A Flauta Mágica.

Não faltaram também reveses: a morte de um de seus filhos, as frequentes doenças da esposa, problemas diversos com o público. Além disso, sua saúde, frágil desde a infância, também se deteriorava com o passar dos anos. Apesar disso, Mozart mantinha o ânimo e continuava compondo. Uma de suas últimas obras foi justamente um Requiem, encomendado pelo conde Franz von Walsegg. Mozart, todavia, já em seus últimos dias, acreditava que o Réquiem havia sido encomendado por ninguém menos que a própria Morte.

Em 4 de dezembro de 1791 seu estado de saúde piorou. Pediu à sua esposa e seu aluno Süssmayer que cantassem seu Réquiem. Quando chegaram ao "Lacrymosa", a partitura escapou das mãos do compositor. Horas depois, à uma da madrugada de 5 de dezembro, Mozart morreu.

Ao amanhecer, o caixão foi levado ao cemitério sob forte chuva. A tempestade impediu seus poucos amigos e mesmo sua mulher de acompanhar o enterro, e não havia ninguém, além dos coveiros, no momento em que ele foi enterrado. No dia seguinte, quando Constanze foi tentar encontrar o túmulo do marido, ninguém sabia onde estava o caixão. Até hoje ninguém sabe onde está enterrado Wolfgang Amadeus Mozart.

Obras

O catálogo das obras de Mozart, como o de Bach, não obedece ao critério de "opus". As obras foram catalogadas postumamente pelo pesquisador austríaco Ludwig Koechel. Assim, as músicas de Mozar são acompanhadas das letras I.K. e o número atribuído pelo musicólogo. Na imensa produção de Mozart, selecionamos apenas uma mínima parcela, o suficiente para o leitor conhecer as diversas facetas do compositor.

Sinfonias:

Embora as sinfonias de juventude tenham inúmeros atrativos, são as obras da maturidade as mais populares. As Sinfonias n. 35, "Haffner" e 36 "Linz" são particularmente belas - esta última com a particularidade de ter sido composta em meros 3 dias! As duas últimas sinfonias, de n.40 em sol menor e a 41 em dó maior, "Jupiter" são precursoras do que viria a ser a grande sinfonia alemã do período romântico. Altamente recomendadas, não apenas por suas qualidades instrínsecas, mas por serem o apogeu de uma forma, a da sinfonia clássica - que seria rompida, poucos anos depois, por Beethoven.

Óperas:

Não se pode ignorar que, na época de Mozart, ópera e Itália eram a mesma coisa. Todavia, mesmo a influência dos grandes mestres italianos da música vocal não impediram Mozart de desenvolver um estilo próprio, acrescentando ao modelo italiano características germânicas. Há mesmo quem afirme ser Mozart o criador da ópera alemã. Assim, O Rapto no Serralho, K. 384, inicia esse ciclo de grandes obras operísticas, seguindo-se As Bodas de Fígaro, K. 492, Don Giovanni, K. 527 e a fantástica A Flauta Mágica, K. 620, já bem distante do bel-canto italiano. Para o ouvinte iniciante, o ideal seria uma audição completa de "Don Giovanni" - há uma versão em vídeo, muito boa, que introduz o ouvinte ao universo mozartiano. Outra alternativa, menos recomendável, é comprar algum CD com "trechos escolhidos" de suas óperas. Se você realmente detesta ópera, isso não é motivo para se privar das excelentes Aberturas ou Prelúdios dessas mesmas obras, que, sendo curtas e puramente orquestrais, ainda assim transmitem a real dimensão do gênio de Mozart.

Outras obras:

Usada como trilha sonora para comercial de desodorante, Uma pequena serenata noturna sofre o mesmo destino de Pour Elise, de Beethoven: embora seja uma obra de excepcionais qualidades de invenção melódica, está associada a um produto, como a obra do compositor alemão está associada aos caminhões de gás.

"Encomendada pela morte", na verdade um nobre, o Réquiem K. 626 é uma das obras máximas de Mozart. Escrito conforme o esquema tradicional, possui uma força expressiva tal como raramente é encontrada na produção mozartiana. Ao contrário dos monumentais Réquiens de Berlioz ou Verdi, onde multidões suplicantes aguardam o julgamento, a obra de Mozart é mais íntima, pessoal, testemunho de alguém que tinha consciência do trabalho realizado.  No mesmo estilo, a miniatura Ave Verum Corpus K. 618 é uma obra correlata, de igual inspiração religiosa - Mozart da melhor qualidade.

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